Como funciona uma intervenção baseada em ABA?
Você já deve ter ouvido falar em Método ABA para pessoas com autismo, não e verdade? Pois bem, não existe tal método.
O que existe é uma ciência chamada Análise do Comportamento Aplicada, que abreviamos com a sigla do inglês Applied
Behavior Analysis – ABA (erroneamente chamada de Método ABA) que é a mais eficaz para tratamento de pessoas com
autismo.
Mas o que significa dizer que não é “Método ABA” e sim a ciência ABA? Significa que não há um modelo fechado de
tratamento ou intervenção para todas as pessoas com autismo, uma para todas as com Deficiência Intelectual ou algo
assim, a intervenção é exclusivamente desenhada para cada pessoa, o que faz com que o Analista do Comportamento
(profissional que planeja a intervenção comportamental) tenha que ser muito preparado, conhecer profundamente esta
ciência, acompanhar as pesquisas mais recentes e ter muita experiência clínica.
Se o plano de tratamento é individual, então é imprescindível uma avaliação bastante profunda desta criança,
adolescente ou adulto em particular.
1º passo – avaliação
Quando conversamos com a família de uma pessoa com o Transtorno do Espectro Autista, Deficiência Intelectual ou
Atrasos no Desenvolvimento, levantamos algumas informações iniciais que nos permitam escolher um protocolo de
avaliação adequado para a pessoa com autismo ou o outro com quem se quer realizar uma intervenção baseada em Análise
do Comportamento Aplicada – ABA. Alguns exemplos de protocolos de avaliação utilizados por nossa clínica:
- Portage – ideal para bebês
- VB-MAPP – ideal para crianças pequenas ou mais verbais
- ABLLS – ideal para crianças um pouco maiores e/ou menos verbais
- AFLS – ideal para fim da adolescência e vida adulta
- Essential for Living – ideal para autismo adulto mais severo
- PEAK – ideal para autismo mais leve com problemas de linguagem
Social Savvy – ideal para o desenvolvimento de Habilidades Sociais, especialmente no autismo leve, naquilo que antes
chamávamos de Asperger
IGLR (Inventário do Bom Aprendiz) – ideal para a avaliação e desenvolvimento das habilidades para implementar os
processos de ensino (como sentar, esperar, seguir instruções, entre outros)
É claro que todos esses protocolos não eliminam um dos principais trabalhos do Analista do Comportamento, seja ele
Terapeuta Ocupacional, Fonoaudiólogo, Psicólogo, Psicopedagogo, Pedagogo ou de qualquer outra formação, que é realizar
análises funcionais, ou seja, descobrir porque o indivíduo se comporta de certa forma. Através do estudo científico do
comportamento humano, por meio de processos muito bem estudados e validados pela pesquisa, podemos avaliar porque
ocorre um comportamento como agressividade, autoagressividade, agitação, gritos, enfim, todas as possibilidades de
comportamentos desadaptativos.
Além disso, é também pertinente ao trabalho do Analista do Comportamento para o planejamento de uma intervenção
baseada em ABA a observação da pessoa que está sendo avaliada em outros contextos que lhe forem relevantes. No caso de
crianças e adolescentes, é usual que se observe seu comportamento também na escola, para que o planejamento também
planejar intervenções que permitam sua melhor adaptação ao ambiente escolar e também, é claro, sua melhor aprendizagem
neste ambiente.
Depois de uma profunda avaliação individualizada, o que descobrimos, basicamente, são duas coisas:
1. Comportamentos em déficit
Trata-se de comportamentos que deveriam estar presentes e não estão ou estão presentes em menor frequência do que
deveriam.
Embora isto pareça fácil de determinar, a verdade é que isso também exige muita atenção. Existem basicamente duas
balizas para determinarmos se certo comportamento “deveria estar presente”, uma delas é a comparação com os marcos do
desenvolvimento humano, o que é feito basicamente com crianças muito pequenas. Vamos dar alguns exemplos:
- Uma criança com 11 meses deve apresentar atenção compartilhada, deve apontar objetos para mostrar interesse,
quando o adulto olhar para uma coisa, ele também deve olhar. Ocorre que muitas com o Transtorno do Espectro Autista
não apresentam esta habilidade e podem aprender em uma intervenção baseada em ABA.
Esta habilidade, à primeira vista, parece dispensável, mas na verdade ela é a base para o desenvolvimento de uma
série de outras habilidades comportamentais mais complexas e seu ensino tem um caráter de alavancar muitos outros
comportamentos ligados sobretudo às habilidades sociais.
- Uma criança de X TEMPO deve imitar, não se trata de uma questão de gosto ou personalidade, mas de biologia, mas
ainda assim, muitas crianças com o Transtorno do Espectro Autista não apresentam esta habilidade e podem aprender em
uma intervenção baseada em ABA.
Cada um de nós se acha muito particular, mas a verdade é que muito do que fazemos é decorrente de imitação. Uma
criança que não imita vai ter dificuldades gigantescas em todas as áreas e será muito difícil ensinar a ela uma série
de habilidades corporais complexas.
Esses são somente dois exemplos dos mais simples de comportamentos que podem estar em déficit no conjunto de coisas
que uma criança com autismo ou Deficiência Intelectual ou Atrasos no Desenvolvimento pode possuir em relação aos
marcos do desenvolvimento.
Mas em muitos casos estamos falando de pessoas com autismo ou outro que são mais velhos ou de habilidades mais
complexas, que não estão entre aquelas que são desenvolvidas pela própria biologia, neste caso, não avaliamos o
déficit em relação ao que é esperado para um desenvolvimento natural para a idade, mas em relação àquelas coisas que
são imprescindíveis para a qualidade de vida daquele indivíduo, por exemplo:
- Ler e escrever
A alfabetização é um processo que normalmente se dá a partir de 6 anos, na escola. Uma criança com autismo ou outra
condição e que não desenvolver esta habilidade, terá sérios problemas na escola, em todas as disciplinas, mas também e
principalmente, prejuízos em sua vida, no supermercado, na escolha de um ônibus, metrô, no acesso a manuais ou todo o
conhecimento disponível na internet. Daí que alfabetização possa ser um objetivo em uma intervenção comportamental.
- Habilidades de paquera
Na adolescência é comum que se desenvolva o desejo de paquerar outras pessoas em idade próxima, mas pessoas com
autismo, por contra no prejuízo na Comunicação Social, pode apresentar sérias dificuldades neste quesito e uma
intervenção baseada em ABA focada em Habilidades Sociais por ter como objetivo o desenvolvimento dessas habilidades
comportamentais.
2. Comportamentos em excesso
Alguns comportamentos podem ser considerados inadequados para a pessoa que os emite seja porque são intrinsecamente
prejudiciais, como bater a cabeça na parede ou morder a si mesmo e outros comportamentos podem ser considerados
inadequados para o indivíduo quando exercidos em contextos em que trazem prejuízos para ele, seja por conta do lugar
(como gritar em uma aula convencional de matemática ou português, masturbar-se na rua), da frequência (comer é ótimo,
mas compulsivamente é prejudicial, abraçar é ótimo, mas centenas de vezes por hora traz prejuízos) ou outros
condicionantes que fazem um comportamento se tornar prejudicial ao próprio indivíduo.
Pois bem, de posse da informação de quais habilidades estão em déficit e quais estão em excesso, uma intervenção
baseada em ABA prevê que sejam escritos programas comportamentais para esta pessoa, para alcançar os objetivos
comportamentais propostos (isto é, desenvolver as habilidades em déficit e reduzir ou eliminar os comportamentos em
excesso).
Estes programas devem ser muito bem escritos para este indivíduo em particular, como fundamento nas estratégias mais
seguras (conforme a pesquisa), mas adaptadas sempre à pessoa a que se irá ensinar. Todos os programas exigem
instrumentos muito minuciosos de registro para reavaliação e reprogramação constante e é importantíssimo salientar que
são sempre os pais os que determinam as prioridades do processo de intervenção e eles devem ter acesso aos programas,
estratégias, serem também treinados para esta implementação e devem acompanhar todos os dados em uma intervenção
comportamental, pois a transparência é uma das dimensão da Análise do Comportamento Aplicada – ABA.
É imprescindível também que uma ou mais pessoas sejam treinadas para implementar este conjunto de programas
comportamentais escolhidos para esta criança, adolescente ou adulto com uma condição como o Transtorno do Espectro
Autista, Deficiência Intelectual ou Atrasos no Desenvolvimento.
Por fim (ufa!!) o aplicador desta intervenção deve registrar com minúcia todo seu trabalho e ser supervisionado
semanalmente pela equipe que planejou a intervenção baseada em ABA (já podemos deixar de lembrar que não é Método
ABA?)
Depois de todo o processo de avaliação, portanto, escreve-se um conjunto de programas comportamentais para o
indivíduo atendido (em geral, ficam em uma pasta), treina-se uma aplicador para esta intervenção e ele é acompanhado
por meio de supervisão. Durante o processo de supervisão constante (também realizada com pais e escola), quando um
objetivo comportamental é atingido (por meio de critérios bem estabelecidos), já são definidos novos programas, com
novos objetivos, sempre evitando a estagnação.
Ao menos uma vez por ano, todo o processo de avaliação deve ser refeito, globalmente.
É importante notar que o planejamento dessas intervenções devem ter em conta, além das necessidades comportamentais
do indivíduo, seus interesses e desejos, criando contextos altamente motivacionais e agradáveis, tornando a
intervenção uma ocasião de aprendizagem o mais leve possível.
2º passo – Elaboração do Plano Terapêutico Individualizado e do Relatório Avaliativo:
Nesse momento, o analista do comportamento irá reunir os dados coletados na avaliação para realizar um longo trabalho de montagem de currículo individualizado para o cliente. Os déficits e excessos comportamentais coletados na avaliação servirão de base para a identificação dos comportamentos-alvos da intervenção. A escolha desses alvos é uma decisão técnica e ética. O analista do comportamento precisa escolher alvos para a intervenção que possibilite uma prática de fato habilitadora (que habilite o cliente em comunidade, fornecendo o máximo de autonomia possível) e humana (que possibilite ao cliente bem-estar em comunidade, bem-estar consigo mesmo e possibilidades de escolhas, de acordo com as suas preferências). Escolhemos para intervenção os comportamentos que possibilitem acesso à comunidade e ao bem-estar. Comportamentos para a vida! Essa escolha levará em consideração o perfil e o repertório do cliente, os recursos do seu meio, a modalidade da intervenção e a carga-horária da intervenção.
Após elencar os alvos, o analista do comportamento irá elaborar o Plano Terapêutico Singular (PTS) com os objetivos de aprendizagem, prazo para esses objetivos, estratégias de ensino utilizadas e programas de ensino, em um currículo individualizado. Atualmente, os programas de ensino criados pela LUNA estão na Plataforma ABA +. Com o PTS em mãos, o analista do comportamento apresenta para o cliente e/ou responsáveis e coleta o consentimento para a sua implementação. Estamos prontos para a terceira etapa do trabalho!
3º passo – Implementação, supervisão e avaliação continuada da terapia
Após avaliação, elaboração do PTS e coleta do consentimento, iniciamos a intervenção continuada. Essa intervenção pode ocorrer de duas formas: abrangente ou focal1. A intervenção abrangente inclui várias áreas do desenvolvimento e uma extensa carga horária, entre 15 e 40 horas semanais. A intervenção focal é referente a uma ou poucas áreas do desenvolvimento, e tem uma carga horária menor.
A intervenção é implementada por um técnico em ABA, ou APLICADOR ABA. Esse técnico deve ter realizado um curso de 40 horas em aplicador ABA e deve receber supervisão semanal do analista do comportamento ou do coordenador analista. Na LUNA ABA, eles também recebem treinamentos continuados semanalmente ou quinzenalmente.
As horas de supervisão semanais são proporcionais às horas de aplicação (para 20 horas de aplicação são recomendadas 2 horas semanais de supervisão, para 30 horas de aplicação, 3 horas semanais…) e devem ser realizadas face a face, ou seja, o supervisor encontra o aplicador (de forma presencial ou online síncrona). Durante esse momento, o analista do comportamento pode:
- Orientar o aplicador.
- Observar a aplicação.
- Fornecer feedbacks sobre a aplicação.
- Realizar inspeção visual dos dados e gráficos produzidos.
- Avaliar o aplicador.
- Orientar sobre coleta de dados contínuos de avaliação.
Esses encontros de supervisão possibilitam a elaboração de relatórios de supervisão com a análise dos dados da terapia e as orientações.
Além dos encontros de supervisão, o analista do comportamento também realiza, periodicamente (semanal, quinzenal ou mensal, a depender da demanda), encontros com os responsáveis para orientação parental. A orientação aos pais é fundamental para fornecer feedback do processo terapêutico, sanar as dúvidas e orientar a generalização das habilidades aprendidas na terapia.
Além da implementação, da supervisão e da orientação parental, o analista do comportamento realiza avaliações continuadas. Ele solicita continuamente a coleta de dados avaliativos para o coordenador e atualiza os protocolos avaliativos. As metas terapêuticas também são revistas, com periodicidade trimestral, quadrimestral ou semestral, a fim de atualizá-las como: atingidas, generalizadas, deterioradas ou em trein0.
Para concluir:
Todo esse processo terapêutico é realizado alinhado às Práticas Baseadas em Evidências2 na área e ao Código de Ética profissional de cada supervisor e implementador. A Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo é uma ciência bastante complexa e com atualizações constantes. Trabalhamos com o desenvolvimento de pessoas com deficiência e buscamos sempre nos atualizar e alinhar a formação da equipe às melhores práticas!
Importante ressaltar que a LUNA ABA está alinhada às orientações da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) e aos órgãos regulamentadores internacionais. Atualmente, a LUNA ABA tem, na sua equipe de supervisores, uma Analista do Comportamento Certificada pela BACB© e pelo QABA©3, a mestre Natalie Brito Araripe (BCBA e QBA), uma analista do comportamento Doutora, a Aída Teresa dos Santos Brito e três supervisores mestres na área. Além disso, no time há 6 coordenadores especialistas, dentre os quais 3 estão cursando mestrado na área. Contamos também com duas terapeutas líderes especialistas e um grupo grande de aplicadores que recebem capacitação continuada na empresa.